quinta-feira, 16 de abril de 2015

Calúnia do Rúbio Negrão

“O segredo da vida é saber quando ir embora.” - Danny Rayburn, a ovelha negra da família na série “Bloodline”

Sejemos cinseros e analfabéticos: assim como a geração do primeiro homem a pisar na Lua, vocês, meus leais detratores, poderão contar aos seus netos que testemunharam a última Calúnia do Rúbio Negrão: esta.

Verdade. Dolorosa para alguns, auspiciosa para a maioria, mas o fato é que por motivo de força maior, ou, no meu caso específico, esforço menor, pararei. Pararei, quem sabe, para me reciclar, fazer um curso de redação, dedicar-me à arte nobre e milenar de tentar ganhar na Mega-Sena acumulada, ou ficar o dia sem fazer nada, o que, no fim das contas, dá no mesmo.

E pra mim já deu. Quando a bagaça começa a se parecer muito com trabalho, tô fora. Muito fora. Exageradamente fora.

Cenão vejemos e erremos: pode parecer que escrevo as Calúnias sentado num vaso sanitário, como soem fazer certos compositores de funk, só que não. Até porque o banheiro da lan house que frequento é pequeno demais para acomodar ao mesmo tempo um negão, um gabinete, um teclado e um monitor de 17 polegadas.

Pra quem não se lembra, ou nunca se importou, comecei a escrever as Calúnias no longínquo ano de 2010, lá no blog da Flamengonet. De lá pra cá, com duas Copas do Mundo das mais traumáticas no lombo, não conquistei droga nenhuma. Nada ganhei com as letras. Nem fama nem glória nem fortuna nem sabedoria nem mulheres nem ao menos travecos. De onde deduzo a razão de alguns boleiros não darem a mínima pra gramática.

Isso sem falar que na semana passada recebi um ofício da FERJ, segundo o qual eu seria “impiedosamente processado” caso não parasse de criticar o criador Eurico Miranda, e sua criatura, o Cariocão. A princípio, cheguei a pensar que se tratava de um trote do Luiz Antônio Processinho, outro de meus inúmeros desafetos, mas pelos termos da missiva, chulos demais até para um jogador de futebol, deduzi que o estilo literário era mesmo do Rubens Lopes.

Sendo assim, seguirei a vida tuitando e facebuqueando mesmo, porque além de não dar processo nem trabalho, ainda é uma cachaça.

É isto: se nestes quase 5 anos de quinta-colunismo esportivo alguns eu diverti, o mérito é tão meu quanto deles, porque, felizmente, possuem senso de humor. E aos muitos que enfadei, que não riram comigo, que ao menos tenham conseguido rir de mim.

Com um forte abraço aos amigos e amigas, os quais não cito nominalmente para que minha parca memória não cometa injustiças, e sem mais para o momento, toco y me voy.

SRN do RNT.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Calúnia do Rúbio Negrão

Sejemos cinseros e analfabéticos: graças ao inacreditavelmente longo alcance das minhas Calúnias, estou começando a ganhar certa notoriedade. Passei a ser muito abordado por pessoas na rua. Só ontem, lá pelas 4 da tarde, quando fui ao boteco tomar o meu café da manhã, uns 15 ou 20 mendigos me pediram esmola! E eu que pensava que mendigo sentia cheiro de grana... Eles sentem mesmo é o cheiro do sucesso!

É isso aí. Pra frente é que se anda. Não estranhem se em breve vocês lerem a seguinte bomba na página inicial do Globo.com: “Rúbio Negrão das Calúnias compra três bisnagas na padaria.”

E sem eu ter de pagar nada!

Mas apesar de ainda estar me acostumando a conviver com a fama repentina, continuo humilde, no chinelinho (número 44, comprado em 2012 e precisado de uma demão de Super Bonder na tira), plenamente ciente da máxima da corrupção “Para rir, primeiro tem que fazer rir”.

Então, como vivemos na era da superficialidade, em que o futebol não é exatamente o que aparenta ser, apresento em primeira mão o meu “Microdicionário Holístico Futebolístico”, com os termos mais utilizados no futebol especialmente destrinchados para quem deseja conhecer o verdadeiro espírito da coisa.

Espero sinceramente que esta Calúnia de cunho altamente didático e pioneiro me abra as portas da Academia Brasileira de Letras, onde poderei passar os dias coçando o saco de forma socialmente aceitável ao lado dos meus pares.

Sem mais delongas, meus leais detratores, vamos ao dicionário:

Botar na roda: manobra que consiste em tocar a bola no campo do time adversário com o único objetivo de confirmar um resultado favorável no placar. Apesar de exigir habilidade de toda a equipe, trata-se muitas vezes de procedimento hipócrita, visto que vários jogadores, sobretudo tricolores, em vez de “botar”, gostariam mesmo é de “levar na roda”.

Contratação pontual: contratar jogador que não chega atrasado em treino.

Contratação cirúrgica: contratar jogador bichado, que toda hora precisa entrar na faca.

Homem da sobra: durantes as refeições do elenco, jogador que limpa o seu prato rapidamente a fim de tentar conseguir dos companheiros mais algum alimento.

Direito de imagem: é a liberdade que um treinador evangélico concede aos seus jogadores católicos de cultuarem suas imagens em paz.

Triatleta: atleta que pratica três modalidades esportivas diferentes. O surgimento dos triatletas possibilitou a assunção dos biatletas, até então enrustidos.

Cai-cai: diz-se do “bolêmico” (mistura de “boleiro” com “boêmio”) que bebe-bebe na balada, e depois, na hora que mais precisa dele, o troço cai-cai.

Elenco fechado: grupo de jogadores unidos em uma grande panelinha que impossibilita a absorção de novos atletas no elenco; igrejinha.

Maria chuteira: uma ex-Maria sapatão que percebeu que jogador de futebol ganha mais grana que cantoras da MPB.

G4: 1. de março a setembro, as quatro equipes de menor porte que ocupam as primeiras colocações do Campeonato Brasileiro da Série A. 2. de outubro a dezembro, o campeão brasileiro mais os três classificados para a disputa da Copa Libertadores.

Z4: para onde aquelas quatro equipes de menor porte que se encontravam no G4 de março a setembro geralmente vão parar de outubro a dezembro.

Paradinha: termo originalmente criado para se referir ao expediente utilizado por Pelé para bater pênaltis, atualmente “paradinha” significa forçar cartões amarelos ou vermelhos a fim de ficar de fora de partidas, decisivas ou não, que caiam em datas nas quais os atletas tenham compromissos mais importantes.

Bola pro mato: ocorre quando o atleta se encontra confortavelmente instalado, tomando umas bolas na espreguiçadeira de sua varanda na Barra da Tijuca, e bate a polícia no prédio em virtude de denúncias feitas por vizinhos. Daí, todas as bolas voam longe, direto pro mato.

Parar a jogada: para-se a jogada quando o esquema ilegal é descoberto dentro do clube. Dependendo da jogada em questão, pode haver a necessidade de se utilizar um laranja para assumir a culpa.

Dar uma caneta: procedimento largamente adotado por empresários buscadores de jovens promessas, que consiste em oferecer uma caneta aos pais das mesmas para que assinem um contrato leonino ad eternum.

DVD: também conhecido como “DVenDer”, trata-se de uma compilação dos melhores momentos de um atleta no estilo fantasioso do Winning Eleven, só que com jogadores humanos.

Capitão do time: jogador injustiçado, porque apesar ter de usar uma logomarca adicional do fornecedor de material esportivo numa faixa em seu braço, não recebe um tostão a mais de direito de imagem.

STJD: Suspeito Tribunal de Juízes Demierda.

CBF: Clube do Bolinha do Futebol.

FIFA: Farra Internacional do Futebol Association.

FERJ: Feudo Euricano e Rubiano do Jabaculê.

Ir na podre: quando o desfecho da jogada não é exatamente o esperado, tornando-se, inclusive, traumático. Ex.: Jogador Fulano foi na podre com traveco em Copacabana.

Matar a pau: o oposto de “ir na podre”. Ex.: Traveco em Copacana matou a pau com jogador fulano.

Engenharia financeira: estratégia utilizada para a contratação oportunista de jogadores caríssimos. Apesar de toda a engenharia envolvida, no fim das contas a casa sempre cai.

Pendurar as chuteiras: costume dos jogadores de antanho que consistia em abandonarem a profissão enquanto ainda podiam praticá-la com dignidade. Caiu em desuso quando os atletas perceberam que, apesar de velhos e barrigudos, sempre havia um clube disposto a pagar uma fortuna para contratá-los.

Roda de bobo: brincadeira entre atletas heterossexuais, que consiste em um deles tentar pegar a bola dos companheiros. Há uma variação praticada entre jogadores homossexuais denominada “roda de biba”, na qual o atleta tenta pegar os próprios companheiros.

Rachão: é o objetivo final de todo o sacrifício feito durante a semana de preparação para determinada partida.

Chinelinho: diz-se de jogador cujos salários estão atrasados há dois meses.

Grevista: diz-se de jogador cujos salários estão atrasados há quatro meses.

Dono do passe: diz-se de jogador cujos salários estão atrasados há doze meses.

Panelinha: grupo de jogadores muito afeitos a acepipes, que não podem ver uma panela no fogo que logo partem pra cima.

Drible da vaca: jogada que mulher devassa tenta aplicar em jogador ingênuo.

Cavadinha: técnica utilizada na cobrança de um pênalti, que consiste em algum jogador da equipe punida com a infração cavoucar com a ponta da chuteira um pequeno buraco no local onde a bola deverá ser colocada para o chute, com o fito exclusivo de prejudicar o cobrador adversário.

Motherfucker: xingamento imediatamente punido com o cartão vermelho por juízes do quadro de árbitros da FIFA, é bastante tolerado por juízes ignorantes do inglês, para os quais “motherfucker” significa apenas “mamãe foca”.

Trairagem: aquilo que a pootaria fez com a sacanagem.

Vice-campeão: time especializado em morrer na praia, justamente onde a caravela sempre encalha.

(Ás do quinta-colunismo esportivo, Rúbio Negrão, vulgo Rubro-Negão Trolhoso, vulgo RNT, é cria dos juniores do blog da Flamengonet, e aceita doações de camisas oficiais novas do Flamengo no tamanho G.)

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Calúnia do Rúbio Negrão

Sejemos cinseros e analfabéticos: nos tempos em que eu era respeitado nos blogs e nas redes sociais, cheguei a ser chamado de “Zico do humor”. Não era verdade. Fui apenas, e continuo sendo, um simples “Cazalbé do riso”, e olhe lá.

Mas que era um elogio e tanto, isso era. O simples uso do nome do Zico enobrece qualquer alcunha, mesmo que seja em “Zico do tráfico”, “Zico da picaretagem” ou “Zico da corrupção”.

Aqui no meu canto, eu ficaria bem mais orgulhoso se eu fosse reconhecido um dia não como o “Zico do humor”, mas como o “Zico do ócio”, porque, como diria o saudoso Bussunda, “Eu tenho um nome a lazer”.

Ressalva feita, voltemos à calúnia propriamente dita (ou melhor, maldita).

Cenão vejemos e erremos: pode-se até discutir onde o futebol teve origem, se na China, no Japão, na Grécia ou em Roma, mas um fato é pacífico: o futebol só foi criado para ser praticado pelo Mengão. O Flamengo foi o clube que inspirou a criação do futebol muito antes de ser fundado. Como adversários eram necessários, daí os outros clubes. Por isso, espera-se que, como forma de retribuição, o Flamengo forneça cada vez mais craques para a perpetuação da boa prática desse esporte não bretão.

Só que hoje, todos se perguntam aonde foram parar os craques que a gente fazia em casa. Por que não surge mais um Adílio, um Leandro, um Andrade, um Mozer, um Júnior? Vá lá, um Jônatas?

Tenho cá as minhas teorias. Costumo comparar o jogador da nossa base ao povo cubano: é louco pra ir pro exterior, e quando lá chegam, simplesmente desaparece. Ou alguém se lembra de algum prata da casa que recentemente tenha se destacado em algum time gringo de primeira linha?

Mas mesmo essa secura de revelações já demonstra certa evolução. A safra maravilhosa dos anos 80 vingou no próprio clube. A dos anos 90, bastante aceitável, explodiu em times rivais. Agora, pelo menos, nossos juniores não explodem nem aqui nem ali, nos adversários diretos. É ou não é uma melhora?

Então, meus leais detratores, vamos às minhas teorias sobre o fracasso da base flamenguista:

Peso da camisa

Existe sim. A camisa do Flamengo pesa. Eu mesmo, quando vou à feira trajando o meu manto sagrado, sinto a responsa. Sei que estou sendo alvo de todos os olhares. Daí, evito dar aquela escarrada no chão, coçar o saco na frente de todos, ou pegar uma laranja quando o dono da barraca não estiver olhando.

Creio que o mesmo ocorra com os nossos garotões da base. Maraca cheio, torcida esperançosa, cobranças a caminho, toda a família assistindo...

Mas apesar do peso insustentável de um sacrossanto manto já envergado por craques da mais alta estirpe, há outro fator que pesa ainda mais do que o próprio manto: as jóias!

Brincos, pulseiras, colares, medalhões, óculos escuros, anéis, badulaques, pingentes, berloques e penduricalhos diversos curvam o jovem atleta sob um peso desumano a semana inteira. Obviamente, quando ele entra em campo no domingo, a sua coluna não é a mesma. O seu senso de equilíbrio foi afetado. A sua estabilidade durante um pique deve ser a mesma de uma Kombi 79.

Sem falar que, franzinos como eles só, os 200 gramas da camisa do Flamengo devem pesar-lhes muito mais do que a longa história que ela representa.

Peso do empresário

Segundo o Marxismo, “a religião é o ópio do povo”.

Se isso fosse verdade, não teríamos jogador crente fazendo fumaça por aí. Mas digamos que seja. Nesse caso, pior que a religião é o empresário, que também faz a cabeça da garotada. Empresário é um vício socialmente tolerado, porque apesar de causar dependência, não é considerado uma droga.

O peso do agente na vida do júnior vai além do fator psicológico. Empresário é um troço que já pesa por si só. Até ex-atletas, quando viram empresários, se tornam obesos em função de tantos almoços e jantares de negócios.

Aí, quando um empresário enorme de gordo encosta um Rafinha e seus bem distribuídos 38 quilos na parede, e começa a berrar “Tu vai pedir 1 milhão de euros por mês!”, o garoto desaba emocionalmente.

Mas a pior tortura é o bordão jogado na cara do moleque: “A fila anda, meu garoto!”

E o garoto sabe que não é da fila do treino físico que ele está falando.

Peso na consciência

Como dizia o grande Alexandre Souteiro da Flamengonet, “Passarinho que come pedra, sabe o forevis que tem.”

O moleque profissionalizado começa a ganhar um dinheirinho melhor, mas o preço por esse salário é abrir mão da juventude. Agora, titular do Flamengo aos 18 anos, o garotão sabe que tem que regular a bebida, os horários, as amizades, e, principalmente, as palavras que diz para os jornalistas (que só querem a sua desgraça).

Ora, é sabido que todo esse autocontrole pode perfeitamente ser adquirido, só que lá pelos 40 anos de idade, quando o moleque já pendurou as chuteiras!

Então, a vida do ex-júnior vai continuar a mesma zona de sempre, só que agora com um grande público assistindo. Logicamente, isso faz com que aqueles que possuem uma consciência passem a se sentir incomodados por ela. Saibam vocês detratores que olheiras e cabelos desgrenhados nem sempre são frutos de pileques.

Quando a consciência passa a incomodar, o garoto entra em parafuso, porque sabe que se falhar em ser um jogador de futebol profissional, terá que arrumar um emprego e passar a trabalhar como qualquer outro fracassado.

Pressão da torcida

Há, e todos sabem disso. Só que apesar de (literalmente) dura, a torcida é justa: Zico é idolatrado até hoje porque a torcida não se esquece dos seus feitos. Já certos Vampetas da vida serão lembrados apenas pelos telespectadores que assistirem ao SuperPop.

A pressão é um algo que cada júnior precisa enfrentar diariamente: há a pressão dos empresários, que exigem que os garotões vinguem depressa porque a alta do dólar não espera, e a janela internacional menos ainda! Tem a pressão daquela Maria Chuteira, que vive grávida e quer se casar de qualquer jeito. E ainda tem a pressão da torcida, milhões de fiscais que sabem onde o cara jantou, “o quem” comeu, e até se houve acompanhamento.

Pra não dizer que tudo é tristeza na sua vida, quando o atleta se torna um veterano, com certeza vai se recordar com carinho daqueles tempos em que podia comer à vontade. Imagino, hoje, o Ronabo, se lembrando, com nostalgia, da cozinheira do São Cristovão, dizendo: “Come mais, minino! Ocê percisa encorpá!”

Pressão dos companheiros

“Pô, professor! Todo dia eu levo farinha, ovo e corredor polonês! Por favor, avisa pra eles que meu aniversário só cai no dia 10 de outubro!” – ex-júnior e ex-futuro Neymar

Primeiro treino do ex-júnior entre os profissionais. Aí ele pega a bola e dá uma caneta num veterano, que, casualmente, é o capitão do time, e joga na mesma posição que o moleque abusado.

Diante do quadro acima, os outros jogadores simplesmente deixam de meter a bola pro garoto. Vai ficar indo e voltando o treino inteiro, sem receber qualquer passe ou lançamento. Vai terminar a atividade fazendo a cobertura de um dos laterais, isso se terminar, porque também pode levar uma bela pregada pra deixar de ser folgado.

Aí eu pergunto: isso é justo? Talvez seja, porque o cara que levou a caneta tem duas ex-esposas nas costas, e precisa renovar muito bem o contrato que está terminando pra poder pagar as duas pensões exorbitantes.

Então, quando todos os novos companheiros profissionais estiverem maltratando o garoto apavorado, entrará em ação o consagrado sistema “tira bom e tira mau”: um jogador irá até ele, amavelmente, ensinar-lhe como a banda toca entre os adultos. Ou seja: “Fica na boa, que ninguém vai te fazer nada. Vai jogando a tua bolinha na paz, sem humilhar ninguém, que você é bom garoto, e vai entrar no time quando a tua hora chegar. Liga não. É que o pessoal aqui baixa a porrada mesmo em quem sacaneia e barra um colega...”

E todo o esquema acima deslindado ocorre tanto sob o mandato de um treinador durão quando o de um treineiro banana. A única diferença é que o banana sabe de tudo, sendo por essa razão assim denominado.

Falta de força física

Pera aí! Garoto que nasce na favela só vai experimentar a sua primeira mamada aos 15 ou 16 anos de idade. Até lá, só se alimenta de mingau de serragem com água de poça, e mesmo assim quando chove! Aí vem o pessoal querer que o cara tenha “força física”?

Porra, o garoto já é um guerreiro só de estar vivo!

Falta de foco

Creio que os nossos problemas acabariam se os juniores recém-promovidos ao time principal encarassem essa honra como uma grande conquista. Só que a impressão que fica é que a subida para o time principal do Flamengo é apenas mais um degrau rumo ao time B do Manchester United, Barcelona ou Chelsea.

Tal distúrbio moral é denominado “falta de foco” ou “excesso de foco”, e acomete principalmente esta nova geração de jogadores flamenguistas imberbes, que provavelmente têm como exemplos de pratas da casa nomes como Marcelinho Carioca, Paulo Nunes e Djalminha.

Falta de referências

O ídolo do Zico era Dida. O ídolo daquela revelação da internet chamada Maicon Santana era Cristiano Ronaldo.

Ponto.

Excesso de preciosismo

Como eu disse acima, antes de irem pro Flamengo, nossos garotões comiam mingau de serragem. Feijão com arroz só em festa de casamento. Nos dias de semana, a base nutricional da galera era o que tivesse dentro do isopor com gelo da cozinha.

Assim sendo, precisamos entender que, para eles, “feijão com arroz” não é sinônimo de coisa simples. “Feijão com arroz”, pros nossos juniores, é coisa chique! Quando o treinador pede que entrem em campo e façam o feijão com arroz, eles entendem que só vale gol de voleio ou de bicicleta! Só querem marcar gols que o Dodô assinaria!

Um treinador politicamente correto saberia passar a mesma orientação na linguagem do boleiro ainda pobre: “Vão lá jogar um mingau naquelas vadias!”

Baixa autoestima

Assim que começa a jogar futebol pelo clube, o garoto passa a conviver com nomenclaturas até então desconhecidas, como “sub-15”, “sub-17”, “sub-19”, “sub-20” e “seu sub-humano!”.

Por que não seleção “sobre-17” ou “sobre-19”? Não daria na mesma?

Somente quando subir para treinar entre os profissionais o garotão começará a ouvir termos mais edificantes, como “top de linha”, “alto nível”, “baita”, etc.

Mas aí já será tarde demais. Com sua baixa autoestima completamente destruída, restará ao jovem profissional torcer para nunca mais ser convocado para seleção brasileira de categoria alguma, por não suportar mais pagar mico.

A solução

Para que não se diga que eu apenas critico, sem oferecer uma solução, aí vai ela, seu Roberto Gomes: precisamos de juniores fortes e sadios. Garotos que espirrem com tanta decisão que em vez de “Saúde!”, recebam “Parabéns!”.

Por isso, inspirados pelos jogos olímpicos de 2016, devemos encaminhar o jovem que chegar à nossa escolinha de futebol para qualquer outro esporte que lhe dê mais solidez. Por exemplo, a luta greco-romana ou mesmo o sumô, para os mais barrigudos.

Depois de um ano praticando somente luta, o nosso menino passará para a maromba propriamente dita, só levantando ferro diariamente por outro ano.

Em seguida, natação, remo, tiro, bocha e ginástica olímpica... Não, ginástica olímpica não, porque ele já não terá a leveza necessária para a prática desse esporte.

Somente depois de todo esse preparo, o garotão, agora com uns 16 ou 17 anos, entrará num campo de futebol pela primeira vez, aí sim pesando seus 90 ou 100 quilos.

Colocando em prática essa nova filosofia de formação de jovens, ganharemos, quem sabe, um novo Adriano ou um novo Ronabo. Se não der, pelo menos um Walter ou Cabañas nascerá. Agora, se a safra for muito fraca mesmo, me contento com um novo Anderson Pico, tudo bem.

Agora, se absolutamente nada der certo com essa garotada, tenho certeza de que pelo menos uns dois ou três Netos vão pintar. E aí, mesmo que fracassem em campo, sempre poderão trabalhar como Reis Momos ou como comerdaristas escrotivos na mírdia paulicha.

(Ás do quinta-colunismo esportivo, Rúbio Negrão, vulgo Rubro-Negão Trolhoso, vulgo RNT, é cria dos juniores do blog da Flamengonet, e aceita doações de camisas oficiais novas do Flamengo no tamanho G.)