quinta-feira, 9 de abril de 2015

Calúnia do Rúbio Negrão

Sejemos cinseros e analfabéticos: graças ao inacreditavelmente longo alcance das minhas Calúnias, estou começando a ganhar certa notoriedade. Passei a ser muito abordado por pessoas na rua. Só ontem, lá pelas 4 da tarde, quando fui ao boteco tomar o meu café da manhã, uns 15 ou 20 mendigos me pediram esmola! E eu que pensava que mendigo sentia cheiro de grana... Eles sentem mesmo é o cheiro do sucesso!

É isso aí. Pra frente é que se anda. Não estranhem se em breve vocês lerem a seguinte bomba na página inicial do Globo.com: “Rúbio Negrão das Calúnias compra três bisnagas na padaria.”

E sem eu ter de pagar nada!

Mas apesar de ainda estar me acostumando a conviver com a fama repentina, continuo humilde, no chinelinho (número 44, comprado em 2012 e precisado de uma demão de Super Bonder na tira), plenamente ciente da máxima da corrupção “Para rir, primeiro tem que fazer rir”.

Então, como vivemos na era da superficialidade, em que o futebol não é exatamente o que aparenta ser, apresento em primeira mão o meu “Microdicionário Holístico Futebolístico”, com os termos mais utilizados no futebol especialmente destrinchados para quem deseja conhecer o verdadeiro espírito da coisa.

Espero sinceramente que esta Calúnia de cunho altamente didático e pioneiro me abra as portas da Academia Brasileira de Letras, onde poderei passar os dias coçando o saco de forma socialmente aceitável ao lado dos meus pares.

Sem mais delongas, meus leais detratores, vamos ao dicionário:

Botar na roda: manobra que consiste em tocar a bola no campo do time adversário com o único objetivo de confirmar um resultado favorável no placar. Apesar de exigir habilidade de toda a equipe, trata-se muitas vezes de procedimento hipócrita, visto que vários jogadores, sobretudo tricolores, em vez de “botar”, gostariam mesmo é de “levar na roda”.

Contratação pontual: contratar jogador que não chega atrasado em treino.

Contratação cirúrgica: contratar jogador bichado, que toda hora precisa entrar na faca.

Homem da sobra: durantes as refeições do elenco, jogador que limpa o seu prato rapidamente a fim de tentar conseguir dos companheiros mais algum alimento.

Direito de imagem: é a liberdade que um treinador evangélico concede aos seus jogadores católicos de cultuarem suas imagens em paz.

Triatleta: atleta que pratica três modalidades esportivas diferentes. O surgimento dos triatletas possibilitou a assunção dos biatletas, até então enrustidos.

Cai-cai: diz-se do “bolêmico” (mistura de “boleiro” com “boêmio”) que bebe-bebe na balada, e depois, na hora que mais precisa dele, o troço cai-cai.

Elenco fechado: grupo de jogadores unidos em uma grande panelinha que impossibilita a absorção de novos atletas no elenco; igrejinha.

Maria chuteira: uma ex-Maria sapatão que percebeu que jogador de futebol ganha mais grana que cantoras da MPB.

G4: 1. de março a setembro, as quatro equipes de menor porte que ocupam as primeiras colocações do Campeonato Brasileiro da Série A. 2. de outubro a dezembro, o campeão brasileiro mais os três classificados para a disputa da Copa Libertadores.

Z4: para onde aquelas quatro equipes de menor porte que se encontravam no G4 de março a setembro geralmente vão parar de outubro a dezembro.

Paradinha: termo originalmente criado para se referir ao expediente utilizado por Pelé para bater pênaltis, atualmente “paradinha” significa forçar cartões amarelos ou vermelhos a fim de ficar de fora de partidas, decisivas ou não, que caiam em datas nas quais os atletas tenham compromissos mais importantes.

Bola pro mato: ocorre quando o atleta se encontra confortavelmente instalado, tomando umas bolas na espreguiçadeira de sua varanda na Barra da Tijuca, e bate a polícia no prédio em virtude de denúncias feitas por vizinhos. Daí, todas as bolas voam longe, direto pro mato.

Parar a jogada: para-se a jogada quando o esquema ilegal é descoberto dentro do clube. Dependendo da jogada em questão, pode haver a necessidade de se utilizar um laranja para assumir a culpa.

Dar uma caneta: procedimento largamente adotado por empresários buscadores de jovens promessas, que consiste em oferecer uma caneta aos pais das mesmas para que assinem um contrato leonino ad eternum.

DVD: também conhecido como “DVenDer”, trata-se de uma compilação dos melhores momentos de um atleta no estilo fantasioso do Winning Eleven, só que com jogadores humanos.

Capitão do time: jogador injustiçado, porque apesar ter de usar uma logomarca adicional do fornecedor de material esportivo numa faixa em seu braço, não recebe um tostão a mais de direito de imagem.

STJD: Suspeito Tribunal de Juízes Demierda.

CBF: Clube do Bolinha do Futebol.

FIFA: Farra Internacional do Futebol Association.

FERJ: Feudo Euricano e Rubiano do Jabaculê.

Ir na podre: quando o desfecho da jogada não é exatamente o esperado, tornando-se, inclusive, traumático. Ex.: Jogador Fulano foi na podre com traveco em Copacabana.

Matar a pau: o oposto de “ir na podre”. Ex.: Traveco em Copacana matou a pau com jogador fulano.

Engenharia financeira: estratégia utilizada para a contratação oportunista de jogadores caríssimos. Apesar de toda a engenharia envolvida, no fim das contas a casa sempre cai.

Pendurar as chuteiras: costume dos jogadores de antanho que consistia em abandonarem a profissão enquanto ainda podiam praticá-la com dignidade. Caiu em desuso quando os atletas perceberam que, apesar de velhos e barrigudos, sempre havia um clube disposto a pagar uma fortuna para contratá-los.

Roda de bobo: brincadeira entre atletas heterossexuais, que consiste em um deles tentar pegar a bola dos companheiros. Há uma variação praticada entre jogadores homossexuais denominada “roda de biba”, na qual o atleta tenta pegar os próprios companheiros.

Rachão: é o objetivo final de todo o sacrifício feito durante a semana de preparação para determinada partida.

Chinelinho: diz-se de jogador cujos salários estão atrasados há dois meses.

Grevista: diz-se de jogador cujos salários estão atrasados há quatro meses.

Dono do passe: diz-se de jogador cujos salários estão atrasados há doze meses.

Panelinha: grupo de jogadores muito afeitos a acepipes, que não podem ver uma panela no fogo que logo partem pra cima.

Drible da vaca: jogada que mulher devassa tenta aplicar em jogador ingênuo.

Cavadinha: técnica utilizada na cobrança de um pênalti, que consiste em algum jogador da equipe punida com a infração cavoucar com a ponta da chuteira um pequeno buraco no local onde a bola deverá ser colocada para o chute, com o fito exclusivo de prejudicar o cobrador adversário.

Motherfucker: xingamento imediatamente punido com o cartão vermelho por juízes do quadro de árbitros da FIFA, é bastante tolerado por juízes ignorantes do inglês, para os quais “motherfucker” significa apenas “mamãe foca”.

Trairagem: aquilo que a pootaria fez com a sacanagem.

Vice-campeão: time especializado em morrer na praia, justamente onde a caravela sempre encalha.

(Ás do quinta-colunismo esportivo, Rúbio Negrão, vulgo Rubro-Negão Trolhoso, vulgo RNT, é cria dos juniores do blog da Flamengonet, e aceita doações de camisas oficiais novas do Flamengo no tamanho G.)

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