terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Primórdios

A fábula a seguir, publicada em 29/06/10 no blog da Flamengonet, marcou a admissão deste Rúbio Negrão que vos tecla como novo colunista daquele prestigioso site:


Sérvia x Gana, na visão da bola

Fui desenvolvida com o auxílio das mais modernas tecnologias. Acabei ficando com um design interessante: colorida, estilosa... Tudo estava indo às mil maravilhas até a hora do nome. Escolheram “Jabulani”. Isso aí: Ja-bu-la-ni. Até “Jaburandi” teria sido melhor! Ou “Jaburanga”! Que me fizessem uma obesa mórbida, quadrada ou oval, mas que me dessem um nome decente! Insistiram no “Jabulani”, que é “celebração” no dialeto bantu isizulu. Celebração só se for pra eles! Será que “celebração” em zulu não podia ser “Jane Anne”, “Eliane”, ou pelo menos “Creuzinha”? Por esse critério, a bola da Copa de 2014 vai se chamar “Samba, Pelé, mulatas e carnaval”!


Mas a humilhação não parou por aí. Eu estava louquinha pra estrear na Copa no jogo dos “holandeuses” contra os “dinamarquentes”, só que me escalaram pra... Sérvia e Gana!


É isso aí. Depois das crueldades a que fui impiedosamente submetida, o nome escroto que recebi, os jogadores reclamando de mim (que faço muitas curvas, que vou muito pro alto ou muito pra baixo, que às vezes sou leve demais, às vezes pesada demais), é isso aí mesmo, cambada: vou sacanear em todos os jogos que me colocarem!


Aliás, esses jogadores mal-agradecidos já estavam falando de mim antes mesmo da Copa começar: Robinho, Luis Fabiano e até o Felipe Melo, o “Elzo do Dunga”! Mas tô me lixando! O que me importa é que o fofo do Kaká me elogiou, tá? Até o Marcelinho Carioca me adorou. Pena que ele seja tão baixinho pra mim...


Tudo bem, tá certo... Admito que sou mais leve do que essas bolas gorduchinhas e démodés por aí, mas o que eu posso fazer se tenho “bolimia”? Pelo menos meus fartos gomos são originais de fábrica. Sou lisinha e inteiraça. Sem falar que eu nunca murcho, nem que me coloquem pra jogar com o Ribéry, Merica, Biro-Biro ou outros monstros do futebol!


O jogo? Sérvia e Gana? Ah, já tinha me esquecido. Pô, o que dizer de um jogo em que o homem mais atraente em campo foi o juiz? Péssimo! Quer dizer, péssimo para uma partida de futebol. Pra um jogo de bocha teria sido até bem movimentado. Se eu ainda fosse uma bola gay pra gostar de peladas...


Por falar em gay, e as chuteiras dos caras? Todas boiolas: amarelas, vermelhas, azuis, prateadas... Por onde andam as velhas chuteiras pretas, tão másculas? Tanto arco-íris em campo me dá calafrio!


Olha, só não adormeci porque aquele bando de pernas-de-pau ficava me chutando, cabeceando, apalpando aqui e acolá... Me mandaram duas vezes na trave: foram duas belas porradas na testa que me deram uma dor de cabeça que nunca senti antes, nem nas minhas noitadas mais loucas  com uma luva esquerda de goleiro muito da mão-boba.


Resumo da ópera-bufa: se a Sérvia juntar todos os seus “ics”, não chega a um Petkovic. E Gana é totalmente autoexplicativa: só muita gana mesmo, e olhe lá! Assassinaram o futebol muito antes da fase do Waka waka, quer dizer, mata-mata. Um jogo que começou oxo e terminou chocho.


Agora, justiça seja feita: Sérvia 0 x 1 Gana mereceu entrar pra história. Mais exatamente na categoria “grandes catástrofes da humanidade”. Basta dizer que não precisei causar nem a metade do que foi um verdadeiro festival de chutes tortos, passes errados e curvas malucas.


Ah, mas me aguardem...

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